Coube ao círculo eleitoral do Corvo, que elege dois deputados, inaugurar este ritual quadrienal a que a estação pública de televisão nos habituou.
Embora o subdiretor de informação da TV regional, Rui Goulart, tenha enfatizado, no Telejornal, o facto de os debates se realizarem no “Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas”, a concretização da ideia não me parece muito feliz, pois os planos gerais que as câmaras captam dão a impressão que os participantes estão num armazém, ainda por cima encavalitados nuns bancos esguios. Mas como em gostos não se discute fico-me por esta mera opinião, admitindo que o meu sentido estético é que deixa a desejar!
A diversidade da prestação dos quatro candidatos a deputado e a discussão de problemas concretos que afetam a ilha do Corvo, o mais pequeno círculo eleitoral da Região e do país, deixaram claro quão importante é o período de pré-campanha e campanha eleitoriais, mal-grado a demagogia a que está associado.
Acredito que não é fácil, num universo de 337 eleitores, encontrar cidadãos disponíveis para se envolverem no combate político, pois cada lista concorrente terá que apresentar entre quatro a dez candidatos, embora o fator residência não seja imperativo.
O debate foi interessante sobretudo porque se centrou, de uma forma bem evidente, nos problemas concretos do Corvo – como já referi -, dando-lhe uma dimensão útil e até agradável de seguir.
O perfil de cada protagonista é muito diverso e por isso rico, o que torna problemático o habitual exercício de encontrar um vencedor.
Mas se quiséssemos ir por esse caminho Paulo Estêvão (PPM/CDS) entraria no jogo como favorito e vencedor antecipado, enquanto figura parlamentar de topo, com três mandatos cumpridos e toda a experiência que daí advém, aliada ao seu apurado sentido político.
Iasalde Nunes (PS), também experiente (dois mandatos), não tem a sagacidade do seu opositor monárquico. Sereno, o seu papel de defensor do Governo, com a incumbência de lembrar os milhões investidos na mais pequena ilha do arquipélago, entraria em campo, como diz o selecionador nacional de futebol Fernando Santos, candidato mas não favorito.
Marco Varela (CDU), coordenador da Direção da Organização da Região Autónoma (DORAA) do PCP e funcionário do partido, cumprindo a difícil missão de impedir que os comunistas sofram uma erosão perigosa para as suas aspirações, não tem comprometido. O que poderia parecer um jogador colocado fora da sua posição natural dentro das quatro linhas, no final do embate de ontem teria saído com o estatuto de titular.
Por fim, o jovem Luís Pimentel (PSD) ficaria no banco dos suplentes, embora o treinador encontre motivos para continuar a convocá-lo, como executante de um jogo direto, sem dribles, tendo que exercitar melhor a sua progressão no terreno. Mas a tática está assimilada.
Maria Pereira (BE) não compareceu à chamada.
Ao árbitro, Herberto Gomes, não se lhe poderia dar nota alta, embora não tenha influenciado o resultado. Faltou sentido de oportunidade para enriquecer o desafio, apitando ou deixando jogar. A repetição, sempre pela mesma ordem, da volta pelos intervenientes, matou um jogo do qual o espetáculo não era o que mais dele se esperava. (X)